O Profano da Literalidade
Está
será uma série, de pequenos textos, mostrando como a
abordagem simbólica de mitos, ritos e religiões, aprofunda
em muito o entendimento e experiência com o transcendente. Nesse
texto, farei uma re-leitura pessoal do livro do Eliade, trabalharei
com a idéia de que essa abordagem simbólica não é nova,
nem secreta, obscura ou impopular e que sempre esteve ai de
diversas formas para quem quisesse ver e que o seu eixo/ancora de
valores diz respeito só a você mesmo.
Logo
no prefácio, de O Sagrado e o Profano de Mircea Eliade, livro que
recomendo muito a leitura, temos uma pequena história dos movimentos
mais conhecidos, que trabalharam noque é chamado ali de Ciência das
Religiões, grupos que estudavam como ler os mitos e passagens
sagradas, alguns de forma muito simbólica e rica, outros de forma um
pouco mais pobre e literal, e é citado dezenas de movimentos, desde
a antiga Grécia, com um legado milenar de movimentos gerando muitas
leituras e entendimentos diferentes entre si, pluralidade de opiniões
fica-se muito patente, diversidade, não se tendo uma verdade única
sobre como ler o transcendente e sim visões que eram mais populares
em certos períodos e agrupamentos filosóficos.
O
sagrado seria uma forma de se enxergar a realidade externa e interna,
com significado, com importância, com profundidade, camadas e
analogias. Seria um olhar atento e um entendimento conciliador entre
várias partes, o profano do livro está no oposto, em não ver
significado ou não entendê-lo, na realidade externa e interna, a
leitura literal e sua execução literal fica clara como
profana/equivocada, por não haver conciliação, entendimento,
interpretação, apenas o comprimento e aceitação, ao invés do
entendimento e interiorização, o sagrado não é alienante,
restritor ou opressivo, e quando o é, temos um claro indício de
falha de interpretação ou interpretação alguma.
Como
antropólogo, ele por vezes, vai citar, como povos antigos se viam e
viam a realidade a sua volta, de como certos povos entendiam sua
própria criação e um dos conceitos criados por Mircea Eliade nesse
livro para descrever esse processo, é o de cosmizar a realidade, que
seria o de criar um mundo, um cosmos local onde um povo vive e ali é
o centro do universo e da criação, exite um ponto ou eixo que
aquele povo é dono e dali se originou tudo, muitos povos na
antiguidade explicavam sua cosmogênese assim, levando significado a
realidade próxima numa época onde a ciência era precária ou nula,
explicando elementos externos, mas principalmente internos e ai mora
toda a solução e problemática.
Isso
pode ser muito belo e funcional, quando entendido corretamente dentro
do contexto, dentre as várias leituras possíveis, a do viver de
acordo com seu eixo interno de valores, viver de acordo com sua
expressão humana e divina equilibrada/firmada, e não por valores
externos volúveis que lhe foram impostos e valores
mundanos te levando para lá e para cá afinal existiria um eixo do
alto ao baixo, conexão com o todo e a natureza, dando-se
enfoque no processo que criar um mundo é algo simbólico e interno,
não externo, real, verdadeiro e absoluto, agora quando se retira
isso do contexto simbólico, com as pessoas achando realmente que a
realidade foi criada para você e você é o centro de tudo, vulgo "o
mundo gira em torno do meu umbigo", nada de bom sai dai, com a
raça humana achando que o planeta é playground dela, que os animais
foram criados para os humanos, que os homens são superiores que as
mulheres, que monoteísmo é superior ao politeísmo ou ao paganismo,
que existe um Deus verdadeiro e todos os outros são errados ou
demônios, isso é uma perspectiva egoísta, profana e
disfuncional, de todo e qualquer mito. Não há justificativa, é
um ato preguiçoso e de mau caráter, porque fontes que corroborem
que livros religiosos descrevem lições e não fatos ha muitos, e
são de fácil acesso, alias, quando lidos corretamente, todos esses
"cosmos", todos esses eixos, todos esses pilares da
criação, conversam entre si ao invés de se anular ou antagonizar.
A pluralidade de Deuses e suas crenças, e sua interação
harmoniosa, Joseph Campbell escreveu ostensivamente chamando de
Mascaras de Deus, aonde o atemporal assume ou é dado, um
entendimento temporal e fracionado, mas ainda sendo uma coisa
só, e por isso, não haveria motivos de atritos. Alias quando
seu conto pessoal predileto, consegue se comunicar em mais de um
nível, seja emocional, psicológico e transcendente com você e com
outras crenças, esse é um indicativo, que talvez, você esteja
interpretando bem, agora quando se retira isso, alguns acham que de
forma física, verdadeira e real o centro do universo é a Meca,
outros Jerusalém, outros o seu conceito de Deus, outros a
humanidade, outros os homens, héteros e brancos, e invariavelmente é
uma leitura equivocada, quando se parte para esse perspectiva, é uma
leitura egoísta, de uma mente fraca e pouca estudada, que tem
dificuldades de aceitar que existem outras perspectivas de mundo.
Os
ensinamentos espirituais, como informação arquetípica,
transcendem tempo e espaço, não estando presos a eles, o
entendimento simbólico faz a mensagem se tornar viva e
atual, enquanto a literal a torna datada, confusa, retrograda e
por vezes sem aplicabilidade moderna, anti-humanista e com um
religare sofrível e pouco eficiente. Nessa época onde neo
pentecostais, cometem excessos, por sua leitura literal de
seu livro simbólico no pais, e fora do
pais Islâmicos fundamentalistas fazem o mesmo,
pode ser muito relevante, a leitura de livros assim, que
abordem que seus livros sagrados não narram fatos e sim
aprendizados, não falam de ocorridos no plano físico e
sim de processos internos, não comentam de verdades absolutas
do seu único Deus verdadeiro e sim de
ensinamentos simbólicos que devem ser entendidos
corretamente e interiorizados, e não o inverso de se tentar
reproduzir literalmente ocorridos que se acha que é histórico,
e que colocar no lugar certo esses livros, que é o de
narrativas de aprendizado, e não de livros que descrevem fatos, que
descrevem a historia real da humanidade e que falam de leis
divinas absolutas a serem seguidas, não os diminui em nada, e sim os
dignifica porque dar o uso para o qual foram feitos, ao invés de
usar eles para ficar enxergando o Diabo em outras nações e
religiões como melhor for conveniente a motivos escusos
de políticos e figuras religiosas, não existe batalha
espiritual externa, seja Diabo ou Jihad contra outros povos e
religiões, e sim que a batalha é interna, a batalha contra as
fraquezas, a batalha da reforma íntima, das virtudes contra
os vícios, do controle contra os impulsos, o despertar de uma
vida mundana, instintiva e robotizada e não de uma religião contra
outra, ocidente contra oriente, infiéis contra fiéis,
cristãos contra pagãos, pagãos contra cristãos, quem se pega
nesse tipo de atrito, é o maior e melhor profanador da sua
crença, por a estar desvirtuando de dentro pra fora, com seu mau
testemunho de entendimento e vivência.
Próximo
texto, citarei como diversos povos, viam o seu próprio eixo da
criação de mundos.
Apresentação
Como
é o meu poste de estreia no blog, segue uma curta apresentação,
vou ser o segundo colunista do blog, junto a Leona, meu nome é
Anderson Roberto de Souza, tenho 29 anos, desenhista industrial e
possível fisioterapeuta, libriano, probacionsita da Arcanum
Arcanorum, estudante da SCA e praticante informal da Golden
Dawn/Bardonismo, entusiasta do estudo de religiões comparadas e
mitologias comparadas, com especial apreço pelos estudos e
posicionamentos do Joseph Campbell e do Mircea Eliade, gosto muito de
literatura de ficção cientifica e fantasia, me interesso pela
temática de xamanismo, umbanda, taoismo, arte marcial, bushido,
budismo, magia simbólica, vivência simbólica, projeção astral e
bioenergias. Espero aos poucos poder escrever algo sobre cada uma
dessas coisas, porem vou dar maior enfoque em simbologia.
Bibliografia:
Sagrado
e o Profano do Mircea Eliade
Para
maiores aprofundamentos no tema, qualquer livro do autor acima, no
título citado, já aparece outros autores muito bons dentro do
livro, Joseph Campbell e sua obra também é uma excelente fonte de
pesquisa.
Tags:
estudo simbólico, analogias, pilar cósmico, atentados,
diversidade.
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