sexta-feira, 17 de junho de 2016

O Sagrado e o Profano


O Profano da Literalidade 

Está será uma série, de pequenos textos, mostrando como a abordagem simbólica de mitos, ritos e religiões, aprofunda em muito o entendimento e experiência com o transcendente. Nesse texto, farei uma re-leitura pessoal do livro do Eliade, trabalharei com a idéia de que essa abordagem simbólica não é nova, nem secreta, obscura ou impopular e que sempre esteve ai de diversas formas para quem quisesse ver e que o seu eixo/ancora de valores diz respeito só a você mesmo.

  Logo no prefácio, de O Sagrado e o Profano de Mircea Eliade, livro que recomendo muito a leitura, temos uma pequena história dos movimentos mais conhecidos, que trabalharam noque é chamado ali de Ciência das Religiões, grupos que estudavam como ler os mitos e passagens sagradas, alguns de forma muito simbólica e rica, outros de forma um pouco mais pobre e literal, e é citado dezenas de movimentos, desde a antiga Grécia, com um legado milenar de movimentos gerando muitas leituras e entendimentos diferentes entre si, pluralidade de opiniões fica-se muito patente, diversidade, não se tendo uma verdade única sobre como ler o transcendente e sim visões que eram mais populares em certos períodos e agrupamentos filosóficos.

  O sagrado seria uma forma de se enxergar a realidade externa e interna, com significado, com importância, com profundidade, camadas e analogias. Seria um olhar atento e um entendimento conciliador entre várias partes, o profano do livro está no oposto, em não ver significado ou não entendê-lo, na realidade externa e interna, a leitura literal e sua execução literal fica clara como profana/equivocada, por não haver conciliação, entendimento, interpretação, apenas o comprimento e aceitação, ao invés do entendimento e interiorização, o sagrado não é alienante, restritor ou opressivo, e quando o é, temos um claro indício de falha de interpretação ou interpretação alguma.   

  Como antropólogo, ele por vezes, vai citar, como povos antigos se viam e viam a realidade a sua volta, de como certos povos entendiam sua própria criação e um dos conceitos criados por Mircea Eliade nesse livro para descrever esse processo, é o de cosmizar a realidade, que seria o de criar um mundo, um cosmos local onde um povo vive e ali é o centro do universo e da criação, exite um ponto ou eixo que aquele povo é dono e dali se originou tudo, muitos povos na antiguidade explicavam sua cosmogênese assim, levando significado a realidade próxima numa época onde a ciência era precária ou nula, explicando elementos externos, mas principalmente internos e ai mora toda a solução e problemática.

  Isso pode ser muito belo e funcional, quando entendido corretamente dentro do contexto, dentre as várias leituras possíveis, a do viver de acordo com seu eixo interno de valores, viver de acordo com sua expressão humana e divina equilibrada/firmada, e não por valores externos volúveis que lhe foram impostos e valores mundanos te levando para lá e para cá afinal existiria um eixo do alto ao baixo, conexão com o todo e a natureza, dando-se enfoque no processo que criar um mundo é algo simbólico e interno, não externo, real, verdadeiro e absoluto, agora quando se retira isso do contexto simbólico, com as pessoas achando realmente que a realidade foi criada para você e você é o centro de tudo, vulgo "o mundo gira em torno do meu umbigo", nada de bom sai dai, com a raça humana achando que o planeta é playground dela, que os animais foram criados para os humanos, que os homens são superiores que as mulheres, que monoteísmo é superior ao politeísmo ou ao paganismo, que existe um Deus verdadeiro e todos os outros são errados ou demônios, isso é uma perspectiva egoísta, profana e disfuncional, de todo e qualquer mito. Não há justificativa, é um ato preguiçoso e de mau caráter, porque fontes que corroborem que livros religiosos descrevem lições e não fatos ha muitos, e são de fácil acesso, alias, quando lidos corretamente, todos esses "cosmos", todos esses eixos, todos esses pilares da criação, conversam entre si ao invés de se anular ou antagonizar. A pluralidade de Deuses e suas crenças, e sua interação harmoniosa, Joseph Campbell escreveu ostensivamente chamando de Mascaras de Deus, aonde o atemporal assume ou é dado, um entendimento temporal e fracionado,  mas ainda sendo uma coisa só, e por isso, não haveria motivos de atritos. Alias quando seu conto pessoal predileto, consegue se comunicar em mais de um nível, seja emocional, psicológico e transcendente com você e com outras crenças, esse é um indicativo, que talvez, você esteja interpretando bem, agora quando se retira isso, alguns acham que de forma física, verdadeira e real o centro do universo é a Meca, outros Jerusalém, outros o seu conceito de Deus, outros a humanidade, outros os homens, héteros e brancos, e invariavelmente é uma leitura equivocada, quando se parte para esse perspectiva, é uma leitura egoísta, de uma mente fraca e pouca estudada, que tem dificuldades de aceitar que existem outras perspectivas de mundo.

  Os ensinamentos espirituais, como informação arquetípica, transcendem tempo e espaço, não estando presos a eles, o entendimento simbólico faz a mensagem se tornar viva e atual, enquanto a literal a torna datada, confusa, retrograda e por vezes sem aplicabilidade moderna, anti-humanista e com um religare sofrível e pouco eficiente. Nessa época onde neo pentecostais, cometem excessos, por sua leitura literal de seu livro simbólico no pais, e fora do pais Islâmicos fundamentalistas fazem o mesmo, pode ser muito relevante, a leitura de livros assim, que abordem que seus livros sagrados não narram fatos e sim aprendizados, não falam de ocorridos no plano físico e sim de processos internos, não comentam de verdades absolutas do seu único Deus verdadeiro e sim de ensinamentos simbólicos que devem ser entendidos corretamente e interiorizados, e não o inverso de se tentar reproduzir literalmente ocorridos que se acha que é histórico, e que colocar no lugar certo esses livros, que é o de narrativas de aprendizado, e não de livros que descrevem fatos, que descrevem a historia real da humanidade e que falam de leis divinas absolutas a serem seguidas, não os diminui em nada, e sim os dignifica porque dar o uso para o qual foram feitos, ao invés de usar eles para ficar enxergando o Diabo em outras nações e religiões como melhor for conveniente a motivos escusos de políticos e figuras religiosas, não existe batalha espiritual externa, seja Diabo ou Jihad contra outros povos e religiões, e sim que a batalha é interna, a batalha contra as fraquezas, a batalha da reforma íntima, das virtudes contra os vícios, do controle contra os impulsos, o despertar de uma vida mundana, instintiva e robotizada e não de uma religião contra outra, ocidente contra oriente, infiéis contra fiéis, cristãos contra pagãos, pagãos contra cristãos, quem se pega nesse tipo de atrito, é o maior e melhor profanador da sua crença, por a estar desvirtuando de dentro pra fora, com seu mau testemunho de entendimento e vivência.

Próximo texto, citarei como diversos povos, viam o seu próprio eixo da criação de mundos.

Apresentação
  Como é o meu poste de estreia no blog, segue uma curta apresentação, vou ser o segundo colunista do blog, junto a Leona, meu nome é Anderson Roberto de Souza, tenho 29 anos, desenhista industrial e possível fisioterapeuta, libriano, probacionsita da Arcanum Arcanorum, estudante da SCA e praticante informal da Golden Dawn/Bardonismo, entusiasta do estudo de religiões comparadas e mitologias comparadas, com especial apreço pelos estudos e posicionamentos do Joseph Campbell e do Mircea Eliade, gosto muito de literatura de ficção cientifica e fantasia, me interesso pela temática de xamanismo, umbanda, taoismo, arte marcial, bushido, budismo, magia simbólica, vivência simbólica, projeção astral e bioenergias. Espero aos poucos poder escrever algo sobre cada uma dessas coisas, porem vou dar maior enfoque em simbologia.

Bibliografia:
Sagrado e o Profano do Mircea Eliade
Para maiores aprofundamentos no tema, qualquer livro do autor acima, no título citado, já aparece outros autores muito bons dentro do livro, Joseph Campbell e sua obra também é uma excelente fonte de pesquisa.



Tags: estudo simbólico, analogias, pilar cósmico, atentados, diversidade. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário